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24 November 2025
Författare: Karen Nobre Krull

Agroecologia: a rede condutora para a ação climática efetiva

Community work at the COOPLANTAS nursery. Photo by COOPLANTAS.

Na região Sudeste do Brasil, uma cooperativa de agricultoras transforma resíduos em adubação orgânica e biodiversidade em saúde pública. Estes produtos abastecem escolas, o sistema público de saúde e restauram solos. O que parece ser apenas mais um exemplo de sucesso comunitário, na realidade, sinaliza o próximo passo na política climática: a agroecologia como estratégia territorial para mitigação e adaptação climática. Esta possibilidade é oportunizada pelo caráter sistêmico e inclusivo da agroecologia, que responde à desafios socioambientais complexos como segurança alimentar, circularidade e bioeconomia.

A política climática global separa a mitigação, adaptação, agricultura e indústria na construção de estratégias, gerando soluções técnicas e incentivos especializados, mas dissociados. Os esforços globais carregam êxitos, no entanto, não se atingiu o ponto necessário. De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) atuais continuam insuficientes para limitar o aquecimento global a 1,5 °C até 2030, o que já gera impactos interdependentes em diferentes regiões do mundo.  Esta complexidade indica a urgência de soluções sistêmicas e sinaliza os próximos passos.

Uma solução sistêmica

No Brasil, experiências agroecológicas sugerem que as soluções sistêmicas podem ser potencializadas e escalonadas. No interior de São Paulo, no sítio agroecológico Panela Cheia, a família de Nazaré ensina a promover a segurança alimentar e aumentar a renda, melhorando o aproveitamento do espaço produtivo. Produz mais de 40 cultivares, incluindo frutíferas, hortaliças, plantas medicinais e plantas voltadas aos serviços ecossistêmicos, como flores para polinização e árvores para geração de biomassa e cobertura de solo. Este modo de produção contribui para a superação da vulnerabilidade socioeconômica e atua diretamente na adaptação e mitigação climática.

A diversificação produtiva e funcional promove a resiliência do sistema agrícola diante de choques e estresses, melhora o microclima, e é um importante fator da adaptação climática. No entanto, para sistemas ecológicos e sociais, não é possível analisar resiliência apenas com dados referentes à produtividade, é preciso considerar fatores que reflitam a interconexão dos componentes ecológicos e socioeconômicos. Desta maneira, tal resiliência precisa também garantir a estabilidade das famílias no campo por meio de um projeto de desenvolvimento forte, ético e inclusivo.

No sítio de Nazaré, além da presença de árvores que contribuem com o processo de captura de carbono atmosférico, o preparo de solo é realizado com práticas de baixo impacto, pois o foco é a evolução da fertilidade. Desta maneira, garantem-se estoques estáveis de carbono no solo. Outra prática utilizada que atua na mitigação climática ocorre por meio do aporte de nitrogênio atmosférico por meio da adubação com plantas leguminosas. Em complemento, também são utilizadas podas, esterco de ave e produtos biodinâmicos. Esta circularidade é característica dos agroecossistemas agroecológicos e, se considerada territorialmente, tende a escalonar os impactos positivos.

Medicinal plant processing course. Photo by COOPLANTAS.

Oportunidade de Integração

Como um projeto de desenvolvimento territorial, a agroecologia é capaz de catalisar transformações sociais, econômicas e ambientais de maneira integrada e pode orientar a integração de políticas e estratégias capazes de gerar resultados concretos.  Por exemplo, o Brasil conta com o Plano Nacional de Resíduos sólidos (2022), que prevê tratamento e aproveitamento dos resíduos. Em 2021 eram 73 pátios de compostagem no Brasil, mas estima-se que apenas 2% dos resíduos urbanos são coletados. Desta coleta, metade são resíduos orgânicos, algo por volta 29 milhões de toneladas. Em uma abordagem agroecológica, esses resíduos podem retornar compostados ao sistema produtivo, promovendo benefícios ao meio rural e ao meio urbano.

Na comunidade de Nazaré a agroecologia promove benefícios sistêmicos, funcionando como ponto central na cooperativa feminina COOPLANTAS. Além de melhorar a renda das famílias, a organização social promove a autonomia financeira das mulheres, e assim combate à violência doméstica e reduz as desigualdades de gênero. Desde 2012 a cooperativa participa de uma iniciativa, em parceria com a prefeitura municipal da Ituberá (SP) para a produção de plantas medicinais para o abastecimento do SUS – o sistema público de saúde brasileiro. A produção demandada dos postos de saúde municipais garante distribuição local, contribuindo também com a mitigação climática.

Outros exemplos de políticas que promovem a agroecologia são os programas de compras públicas, como o Programa Nacional da Alimentação Escolar (PNAE), e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Essas políticas combatem a insegurança alimentar e dinamizam a economia nos municípios rurais, melhorando a renda das famílias. Estes programas abastecem a rede de assistência social e organismos públicos, como escolas e hospitais. Esta dinâmica de desenvolvimento inclusivo gera benefícios internos e externos à comunidade rural, respondendo às demandas locais concretas.

Agroecologia: estratégia orientadora

Este é um momento para articular as soluções existentes para alcançar resultados efetivos. É fundamental, por exemplo, fortalecer a agricultura familiar, a incorporando na estratégia industrial para a transição verde, o que pode ser viabilizado por meio do programa Nova Indústria Brasil. Além de maquinário específico, é estratégico fortalecer o uso de matéria-prima agroecológica por meio de um zoneamento territorial que permita estruturar e escalar a produção regional baseada em sistemas biodiversos. Ao alinhar- se à política nacional de bioeconomia e sob a ótica de circularidade e baixo carbono, este contexto também seria favorecido em sinergia à programas estaduais de carbono jurisdicional e pagamentos por serviços ambientais.

Além disso, ao articular as iniciativas criando possibilidades de inclusão econômica efetivas, atividades ilegais tendem a ser reduzidas, como o desmatamento na Amazônia legal, por exemplo. Atualmente a agroecologia é presente nas diferentes regiões e inclui a participação da juventude rural e das mulheres. Esta grande capilaridade proporciona um ponto de partida já bastante consolidado.

Outro benefício estruturante, é que muitas experiências agroecológicas estão articuladas em redes, sejam locais, nacionais ou internacionais. Esse engajamento entre diferentes organizações e atores tende a gerar resultados eficazes e descentralizados. Essa resposta sistêmica aos desafios, e sua presença em diferentes regiões tende a gerar impactos escalonáveis à curto prazo, desde que orientada num projeto coeso e inclusivo de desenvolvimento rural sustentável.

 

This text is written by Karen Nobre Krull.

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