Na região Sudeste do Brasil, uma cooperativa de agricultoras transforma resíduos em adubação orgânica e biodiversidade em saúde pública. Estes produtos abastecem escolas, o sistema público de saúde e restauram solos. O que parece ser apenas mais um exemplo de sucesso comunitário, na realidade, sinaliza o próximo passo na política climática: a agroecologia como estratégia territorial para mitigação e adaptação climática. Esta possibilidade é oportunizada pelo caráter sistêmico e inclusivo da agroecologia, que responde à desafios socioambientais complexos como segurança alimentar, circularidade e bioeconomia.
A política climática global separa a mitigação, adaptação, agricultura e indústria na construção de estratégias, gerando soluções técnicas e incentivos especializados, mas dissociados. Os esforços globais carregam êxitos, no entanto, não se atingiu o ponto necessário. De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) atuais continuam insuficientes para limitar o aquecimento global a 1,5 °C até 2030, o que já gera impactos interdependentes em diferentes regiões do mundo. Esta complexidade indica a urgência de soluções sistêmicas e sinaliza os próximos passos.
Uma solução sistêmica
No Brasil, experiências agroecológicas sugerem que as soluções sistêmicas podem ser potencializadas e escalonadas. No interior de São Paulo, no sítio agroecológico Panela Cheia, a família de Nazaré ensina a promover a segurança alimentar e aumentar a renda, melhorando o aproveitamento do espaço produtivo. Produz mais de 40 cultivares, incluindo frutíferas, hortaliças, plantas medicinais e plantas voltadas aos serviços ecossistêmicos, como flores para polinização e árvores para geração de biomassa e cobertura de solo. Este modo de produção contribui para a superação da vulnerabilidade socioeconômica e atua diretamente na adaptação e mitigação climática.
A diversificação produtiva e funcional promove a resiliência do sistema agrícola diante de choques e estresses, melhora o microclima, e é um importante fator da adaptação climática. No entanto, para sistemas ecológicos e sociais, não é possível analisar resiliência apenas com dados referentes à produtividade, é preciso considerar fatores que reflitam a interconexão dos componentes ecológicos e socioeconômicos. Desta maneira, tal resiliência precisa também garantir a estabilidade das famílias no campo por meio de um projeto de desenvolvimento forte, ético e inclusivo.
No sítio de Nazaré, além da presença de árvores que contribuem com o processo de captura de carbono atmosférico, o preparo de solo é realizado com práticas de baixo impacto, pois o foco é a evolução da fertilidade. Desta maneira, garantem-se estoques estáveis de carbono no solo. Outra prática utilizada que atua na mitigação climática ocorre por meio do aporte de nitrogênio atmosférico por meio da adubação com plantas leguminosas. Em complemento, também são utilizadas podas, esterco de ave e produtos biodinâmicos. Esta circularidade é característica dos agroecossistemas agroecológicos e, se considerada territorialmente, tende a escalonar os impactos positivos.